Ecobag? Sacola oxibiodegradável? Sacola biodegradável? Você já ouviu? Se não, pelo menos já as viu. Tais materiais chegaram ao mercado para tirar de cena uma velha conhecida, com um nome bem mais simples: a sacola plástica. Isso mesmo, aquela que você colocava suas compras e depois reutilizava para embalar lixo ou transportar outros produtos. Mas se você ganha em parte, pode ser prejudicado em outra – a degradação do meio ambiente.
E é essa a preocupação da Apas (Associação Paulista de Supermercados), ao idealizar a campanha “Vamos tirar o planeta do sufoco”, em parceria com o Governo do Estado. Porém, ação desta campanha está mexendo com o cotidiano de consumidores desde 25 de janeiro, quando entrou em vigor. “Não sou contra ajudar o meio ambiente, mas acredito que os supermercados também deveriam adotar sacos que parecem de pão, usados antigamente, e sacos grandes de amido de milho”, opina a vendedora Andreza Caetano, que se refere às sacolas biodegradáveis, que se decompõem em até 180 dias.
Já o agricultor Cilso de Souza Gonçalves, se diz totalmente a favor. “Vocês aqui da cidade veem as ruas sempre limpas, varridas. Nós, que moramos em fazendas, perto de rio, vemos tudo quanto é sujeira sendo jogada lá, principalmente sacolas plásticas e garrafas PET. O que não é retornável acaba parando no rio. Quero ver alguém comprar uma dessas sacolas [ecobags] e descartá-las”, disse, enquanto sua compra era colocada em caixas de papelão. Uma das filhas, a adolescente Letícia (13 anos), concorda com o pai e até ajuda a separar o lixo em casa.
Gabriel Cândido Valini, 12 anos, afirma que adorou a ideia. “É importante cuidar da vida no planeta.” Já para sua mãe, Ana Paula Cândido Valini, 31 anos, a campanha pode colocar um fim nos bueiros entupidos por sacolinhas.
Mas elas ainda circulam por aí. Até porque há o período de consumidores e supermercados se adequarem à novidade. “Tentamos adaptar os clientes à falta de sacola que vai haver. Além disso, muitos ainda não vêm preparados. Então, para ir ensinando, perguntamos antes se a compra pode ser colocada em caixa de papelão. Não pode ser uma mudança radical”, diz José Sanches Gonzales, conhecido como Pepi, um dos proprietários do JM Supermercado. “Nós ainda temos sacolas normais. Quanto às biodegradáveis, pedimos há mais de 30 dias, mas não chegaram, pois está em falta no mercado.”
A postura de ter, ao menos por enquanto, todos os tipos de embalagem – inclusive as ecobags para vender – foi adotada por toda a Rede Econômica, integrada pelo Manolo, JM e Passador. “É necessário educar e contribuir para a conscientização em relação à preservação do meio ambiente. Mas ambas as partes têm de agir”, reforça Manoel Sanches Gonzales, o Manolinho, um dos proprietários do Manolo.
Já o Savegnago extinguiu de vez as velhinhas sacolas. “Nossos clientes estão comprando, saindo e entrando com as sacolas retornáveis ou com caixas de papelão. É o que nós podemos fazer para ajudar o meio ambiente. É o primeiro passo”, declara o coordenador de marketing da rede, Murilo Pais Savegnago. “E as pessoas vão comprar uma vez ou duas. Não vai precisar adquirir uma sacola retornável nova a cada compra.” Segundo o coordenador, uma parte da venda da ecobag é destinada ao Instituto Aparecido Savegnago, onde 200 crianças aprendem informática e idiomas gratuitamente.
Sacolas bio devem ser gratuitas
A professora Maria Alice da Silva foi ao supermercado no dia em que o acordo entrou em vigor e já entrou no esquema do supermercado. “Não quis comprar sacola retornável, pois já tenho umas três em casa. Então, colocaram minha compra em um saco de arroz. Eu não me importo, pois tenho carro. Se não tiver caixa de papelão ou outro tipo de embalagem, eu me viro.” No entanto, a dona-de-casa expõe uma questão pertinente: “O duro é quem for fazer compra a pé. Essa pessoa será obrigada a comprar as sacolas retornáveis a, no mínimo, R$ 1,99, ou as biodegradáveis. Imagina se uma compra demandar dez sacolinhas a R$ 0,19...”
Pode ser que a preocupação da professora deixe de existir. Quando a campanha foi oficialmente lançada, em 25 de janeiro, os supermercados vendiam a sacola biodegradável a R$ 0,19 – preço tabelado. Porém, o gerente dos Lavradores, Eurípedes Rodrigues Gomes, reforça a importância de se respeitar o cliente. “Aderimos à campanha, pois o meio ambiente está sobrecarregado de lixo, mas temos de oferecer alternativas como a caixa de papelão e as sacolas biodegradáveis”. O gerente faz menção a nota oficial da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-SP), publicada dia 1º de fevereiro, que informa que que os supermercados só poderão cobrar pelas sacolinhas de plástico biodegradável se houver outra opção gratuita para que o consumidor possa levar suas compras para casa. A decisão vale por tempo indeterminado, “pelo tempo necessário à desagregação natural do hábito de consumo”. “É importante destacar que, na ausência de opção gratuita para que o consumidor possa concluir sua compra, o estabelecimento deverá fornecer gratuitamente a sacola biodegradável, respeitando assim os ditames do Código de Defesa do Consumidor (CDC)”, diz o Procon em nota.
A orientação dada pela Apas é que as redes ofereçam ao menos um tipo de sacola a preço de custo. Existem também outras opções: carrinhos com bolsas adaptadas, caixas de plástico dobrável, caixas de papelão e sacolas biodegradáveis (chamadas também de biocompostáveis).
Cobrando ou não, as pessoas estão se adaptando. “Está tudo bem tranquilo. Os clientes aceitaram bem”, comentou Sandro da Costa, gerente do Tome Leve
Sem obrigação legal, supermercados adotam campanha
João Sanzovo, diretor de Sustentabilidade da Apas, comemora a implantação da campanha com 95% de adesão dos supermercados. Já por parte da população, ele entende que não será do dia pra noite. Porém, já são quase 32 milhões de pessoas aderindo a ideia, que começou em Jundiaí (SP). “A cidade adotou essa postura há um ano. A prática também existe em Belo Horizonte (MG). Quanto mais pessoas conscientes, melhor. São 7 bilhões de sacolas que vão para os rios, bueiros e que matam animais quando são levadas a pastos pelo vento ou pelo próprio homem. Então, o ser humano sabe que dá para fazer sua parte.”
Para o diretor, outros tipos de estabelecimentos devem adotar a campanha em breve. “A princípio, o foco é supermercado, uma vez que é responsável por 90% da utilização das sacolas plásticas. Mas acredito que as pessoas já irão com suas sacolas retornáveis a outros tipos de comércio.”
A Apas esclarece ainda que não trata-se de uma lei. Portanto, adere o supermercado ou estabelecimento que quiser. Sendo assim não há punição ou multa. “Todas as tentativas de lei foram derrubadas”, completa Sanzovo.
O Barretense, por exemplo, ainda não tem data para entrar no movimento. “Ainda temos sacolinhas plásticas, que estavam no estoque. Acredito que vamos aderir à campanha assim que elas acabarem”, diz o supervisor Diogo Hayek de Oliveira.
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